Curso de Patrão de Costa – 1 a 4.Dezembro
Lisboa – Nazaré – Peniche - Lisboa
A escolha do destino da viagem de treino foi recebida com entusiasmo pela turma. Para uns era o desafio de navegarem para Norte pela primeira vez, para outros a possibilidade de irem um pouco além do que já conheciam.
O grupo rapidamente se lançou à tarefa de planeamento: estudo dos roteiros, escolha das cartas, análise meteorológica, previsão de marés, alimentação a bordo, enfim, tudo o que envolve uma viagem deste tipo.
A uma semana do início da viagem a meteo não se apresentava animadora: ondulação de NW de 7 a 8 metros... ufa! parece que vamos ter de pensar num programa alternativo.
Entretanto, outras duas embarcações responderam positivamente ao convite para nos acompanharem: o Mabi IV do João Bitoque e o 4Winds do António Poças.
A uma semana do início da viagem a meteo não se apresentava animadora: ondulação de NW de 7 a 8 metros... ufa! parece que vamos ter de pensar num programa alternativo.
Entretanto, outras duas embarcações responderam positivamente ao convite para nos acompanharem: o Mabi IV do João Bitoque e o 4Winds do António Poças.
28.Nov (segunda-feira) – a turma apresentou em sala o seu trabalho de planeamento e, depois de alguns comentários e achegas, ficou pronto para ser fechado; quer dizer, mais ou menos, porque isto de planear uma viagem está sempre em aberto até à partida... ou melhor, até ao fim da viagem. A meteo apresentava um quadro já bastante estável e bem mais simpático, havendo apenas a realçar a passagem de uma frente fria na noite de quinta para sexta-feira, com a rotação e intensificação do vento para NW, a chegar aos 30 nós, correspondente agitação marítima mais forte, a passar dos 3 para os 5 metros, e chuva intensa.
Na véspera da partida, perante a eminência da antecipação da passagem da frente, decidimos largar mais cedo. Assim, garantia-se pelo menos a chegada a Peniche e depois logo se veria.
1.Dez (quinta-feira) – O dia amanheceu com o Tejo coberto de nevoeiro mas o Sol espreitava por entre as nuvens junto à barra. O mar apresentava-se com uma ondulação de 2.5 a 3.5 metros, com um período longo. O vento era fraco, do quadrante Sul.
Navegámos com motor e vela grande, a uma velocidade verdadeira que oscilava entre os 6 e os 7 nós. Pelas 1300 horas, passado o São Julião, marcou-se o primeiro ponto. Oportunidade para se reverem alguns conceitos e procedimentos fundamentais: LDP’s, ordem de leitura (sensibilidade das marcas), cruzamento ideal de azimutes, hora do ponto, carteação, estima e ponto marcado,...
A fome apertava e, atendendo a que alguns estomâgos ainda não tinham tido tempo de se adaptarem ao mar, optou-se por um almoço simples: pizza. Humm!! O cheiro que vinha do forno, controlado pelo “chef” Marco, abria ainda mais o apetite...
Entre o Raso e a Roca, a ondulação alta desfazia-se contra a costa com estrondo e lançando espuma bem alto, mas a navegação era tranquila e absolutamente pacífica atendendo ao vento fraco e ausência de vaga. Não pude deixar de pensar, uma vez mais, como o mar é paradoxalmente, tantas vezes igual e diferente... quantas noites passadas neste mesmo trecho de costa rompendo a nortada, com 40 nós de vento e vagas de 3 metros, nas regatas bem disputadas a Peniche (D.Pedro V) e Salazar (volta às Berlengas)? Recordações de outros tempos, igualmente bem passados...
Já a Roca ficava pela nossa alheta de EB quando vimos aproximarem-se duas visitas vindas do céu; era o Cmte. Rocha (pai do formando Sérgio Rocha) e um amigo, nas suas duas aeronaves, que nos brindaram com várias passagens, algumas das quais bem ousadas pela proximidade e baixa altitude a que foram feitas. Quebrou-se a monotonia, fruto da ausência de vento que conduz a uma certa letargia das tripulações, e anteviam-se algumas belas fotos de um ângulo inesperado.
Por vezes parecia que a previsão meteo se iria cumprir, com o vento a rondar para SW e a intensificar um pouco mas, na verdade, não se fixou nesse quadrante. Assim, tentámos manter a vela grande toda aberta para EB mas sem grande sucesso, com a ondulação a fazê-la bombear repetidamente e mesmo cambando a espaços.
Às 1800 já se viam os faróis do Cabo Carvoeiro, da Berlenga e dos Farilhões. O vento cresceu um pouco mais e estabilizou entre... S e SE?!?!... mas que raio, não ia para SW e depois W? A nossa SOG (“speed over ground” – velocidade verdadeira, i.é, em relação ao fundo do mar) passa para o intervalo dos 7 – 8 nós.
Pelas 1930 contactámos a restante frota via rádio a fim de recolher informação para a tomada de decisão sobre prosseguir viagem para a Nazaré, conforme planeado, ou arribar a Peniche. Preocupava-nos sobretudo, o 4Winds que estava cerca de 9 milhas mais atrás; saiu de Lisboa já com atraso e, entretanto, também se “perdeu” com o lauto almoço de que ouvimos falar mais tarde (eheheheh!!!!). Perante a determinação de toda a frota e a projecção de passagem da frente para a meia-noite, decidimos prosseguir de acordo com o plano inicial. Contrariando todas as previsões, ao largo do Cabo Carvoeiro o vento e a vaga apresentaram-se de SE, o que constituiu uma preciosa ajuda. Arribámos para uma mareação mais de largo, rumando um pouco para fora em relação ao rumo directo, dando melhores condições à Carmo para cozinhar o seu prato de massa e a todos nós para o comer.
Próximo da meia-noite chegámos à entrada do porto da Nazaré e constatámos uma barra bastante “mexida”. Entrada feita correctamente, Special One e Mabi IV amarrados e eis que entrou, à hora “marcada”, a dita frente. Entre chuva copiosa e fortes rajadas de vento parecia que o céu ia desabar. Conforme suspeitávamos, o 4Winds não conseguiu escapar a tempo e sentiu os primeiros efeitos ao largo de São Martinho do Porto, tendo um final de viagem com mais adrenalina. 2.Dez (sexta-feira) - De manhã fomos recebidos pelo amigo Mário Sales e pela Patrícia que nos instalaram nos pontões do Clube Naval da Nazaré; manobras executadas entre fortes aguaceiros e refregas mas sem estragos.
Soubemos da feliz notícia da recuperação dos 6 pescadores do “Virgem do Sameiro”, desaparecidos há mais de dois dias por estas bandas, mas que, afinal, foram encontrados na balsa a norte da Figueira da Foz (cerca de 32 milhas mais acima).
O programa de festas dizia, para hoje: “dia livre”. Significado: almoço, lanche, jantar em sessão contínua... eheheh!!! Nada disso. Depois de uma longa caminhada no paredão à beira da praia, “Aleluia” que encontrámos o restaurante recomendado; desiludidos por não podermos experimentar a famosa caldeirada à nazarena, a opção de arroz de tamboril, não sendo brilhante, cumpriu.
Soubemos da feliz notícia da recuperação dos 6 pescadores do “Virgem do Sameiro”, desaparecidos há mais de dois dias por estas bandas, mas que, afinal, foram encontrados na balsa a norte da Figueira da Foz (cerca de 32 milhas mais acima).
O programa de festas dizia, para hoje: “dia livre”. Significado: almoço, lanche, jantar em sessão contínua... eheheh!!! Nada disso. Depois de uma longa caminhada no paredão à beira da praia, “Aleluia” que encontrámos o restaurante recomendado; desiludidos por não podermos experimentar a famosa caldeirada à nazarena, a opção de arroz de tamboril, não sendo brilhante, cumpriu.
Para desmoer o almoço fizemos uma excursão ao Sítio. Por cima dos enormes penhascos, no Miradouro do Suberco, a vista é de extasiar: as cores do pôr do sol sobre o casario, a praia e o mar revelam um quadro de cortar a respiração. Caída a noite sem que tenhamos encontrado o alcaide D. Fuas Roupinho, regressámos usando, de novo, o famoso Ascensor da Nazaré. Familiarizado com todo aquele tipo de equipamento, Mestre Hugo ainda “ameaçou” agarrar-se aos comandos da geringonça mas uma nazarena assustada implorou que não o fizesse e a aventura ficou-se por ali. Depois de umas “loiras” para abrir o apetite, lá fomos até à “Celeste”, não a do giroflé mas a da boa mesa... magnífico jantar em boa companhia, pois tivemos a honra da visita da Paula Figueiredo, da Joana Ribeiro e da Elisa Bustorff.
A previsão apontava para a manutenção do vento no dia seguinte e, de modo a motivar o pessoal para uma “velinha” (como se fosse preciso), lancei o desafio de fazermos uma regata até Peniche rondando as Berlengas por BB. Assim, quais desportistas de alta competição, deitámo-nos cedo (uns às 0400, outros às 0600 da manhã) para estarmos em forma... culpa das bebidas energéticas (Cacique, Bushmills e outras que tais).
3.Dez (sábado) - Como meninos bem comportados, que se deitam verdadeiramente cedo, a tripulação do 4Winds largou amarras e zarpou em primeiro lugar. O Mabi IV fez questão de esperar e saiu connosco cerca de 30 min depois.
O vento era de N/NW, força 3-4 e a ondulação de NW de 3-4 metros. Nem de propósito, a “obrigação” de passar pelas Berlengas tornou a mareação mais confortável.À saída fomos gentilmente acompanhados durante algumas milhas pelo meu amigo Ricardo Ferreira no seu Lwena.
Pouco tempo depois, recebemos mais uma visita do Cmte. Rocha na sua aeronave.
A navegação prosseguiu com bom andamento, com o mar a embalar a tripulação que, apesar do seu estado sonolento, ainda conseguiu avistar uns peixes-lua; houve quem gritasse “tartaruga” mas... pronto, a noite foi curta, certo? O 4Winds foi o primeiro a rondar a Berlenga (no singular pois deixou as Estelas por EB), seguido do Special One que passou entre as Estelas e os Farilhões, tendo o Mabi IV feito um percurso idêntico.
A luz, o mar, o ar selvagem das ilhas... huummm! Quadro lindo de fim de tarde, a transportar-nos para outras paragens longínquas... o apelo da navegação oceânica. E como se isto não bastasse, ainda tivemos nova visita da “esquadrilha aérea”, desta vez composta por 3 aeronaves, uau!!!
4.Dez (domingo) – Contrariamente às expectativas, o dia surgiu muito cinzento, até pouco convidativo para viagens... bom, mas o que tem de ser, tem de ser e lá fomos nós a caminho de Lisboa pelas 0930. O 4Winds zarpou pelas 0600; ah pessoal valente!
Viagem sem história; nada de vento, ondulação inicialmente na ordem dos 2.5-3 metros mas sempre a decrescer. Apenas duas animações: a primeira, o uso do sextante para medir AVS (ângulos verticais de sextante) e AHS (ângulos horizontais de sextante)... na sala e em terra é fácil, não é? No mar, sobretudo com ondulação, a estória é outra; a segunda, o aparecimento dos sempre divertidos golfinhos... bahbahabah!!! Sempre golfinhos... quando é que aparece um cachalote?
O Cabo da Roca estava tão calmo que a Isabel nos brindou com umas ervilhas com chouriço e ovos escalfados, acompanhados de um tinto, que souberam muito bem. Próximo do Raso fomos recebidos pelo Beluga e o seu skipper Luís Ribeiro, companheiros de aventuras anteriores. O vento ainda ameaçou dar um ar de sua graça mas, após nos arrastarmos à vela durante quase uma hora, lá tivemos de recorrer de novo ao vento de porão.
Chegámos à Marina do Parque das Nações pelas 1930 e terminou com sucesso mais uma missão em que fizemos mais de 150 milhas náuticas (fora as do bar). Agora “só” falta o exame.
pedroAgradecimentos:
- Ao Hugo Mendes pelo acolhimento e participação em mais este treino de mar com o seu Special One;
- Ao António Poças e ao João Bitoque e respectivas tripulações pela companhia e partilha de bons momentos de convívio;
- Ao Mário Sales, à Patrícia e ao Ricardo pela colaboração e amabilidade na estadia na Nazaré;
- Ao Cmte. Rocha e amigos pelas simpáticas visitas aéreas e fotos disponibilizadas.